terça-feira, 31 de março de 2009

MEU MEMORIAL DE LEITURA
Olhava as palavras e a curiosidade sempre vinha... Quanta letra reunida! Gostava de folhear livros que tinham gravuras para poder fingir que sabia ler. Com o livro nas mãos, criava, recriava, inventava, viajava. Era gostoso “ler”...
Na escola, a professora Ana Luiza trazia “a Caixa”. Vinha recheada de mundos, de contos, lendas, histórias, de livros. Como eu queria conhecer o mundo! Mundo que ia descobrindo através da leitura, e que ia entrando de fininho, bem devagarzinho.
De todos os mundos da leitura de minha infância, me encantei mais com os índios, e permaneci ali por bastante tempo. Conheci curumins que viraram estrelas; índia que virou lua; cacique que virou João-de-barro, e tantas outras lendas baseadas na força, na coragem e no amor pela natureza que os índios tinham. Tempos bons... Aprendia, lia, relia o mundo, viajava nas palavras.
Os índios me acompanharam e na construção dos meus saberes outros foram surgindo. Índios diferentes que buscavam o amor e lutavam por ele. Em mim, despertavam sentimentos, lágrimas, romantismo. Eram os conflitos da adolescência que permaneciam os mesmos, porém tão longe na linha do tempo... Ah, José de Alencar, como vou esquecer Peri, e Ceci? E Iracema e Martin? Seus romances me inseriram no mundo dos clássicos, e que clássicos!
O tempo foi passando, muitos autores fui folheando e a leitura passou a ser uma necessidade. Lia por gosto e com gosto. E a leitura tem gosto e cheiro, desperta sensações e emoções. Já senti gosto de muita coisa e o cheiro de tantas outras, no livro, e só se deixar levar, é só imaginar...
Veio a Universidade, um universo diferente. Conhecimento, formação, teorias. Às vezes era difícil, nunca fui de teorias, mas o tempo foi passando e eu, me alimentando do conhecimento. Curso de letras. Literatura, lingüística, teorias, autores, nascia o profissional. A professora de Língua Portuguesa. Mas a leitora, alí, deve ter tido alguma influência, tenho certeza disso.
Enfim, foram momentos de formação, momentos de distração. Ler para conhecer, ler para distrair. Mas creio que toda leitura distrai e toda leitura forma...E os índios? Será que ficaram para trás? Lá no início do caminho? Esquecidos? Não, me acompanham por onde vou, como tudo que até hoje li. Estão na minha bagagem que só se fechará quando desse mundo partir. Mas quem sabe lá também encontre leituras e releituras e até aqueles curumins que viraram estrelas... duvida? Eu, não... É só deixar levar e imaginar. E se são Pedro permitir, um livro há de ir junto comigo, e os índios também.